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ENSAIOS
Capítulo 5 |
Atenuação do Ruído
5.1. Introdução O
objetivo principal dos protetores auditivos é reduzir
a um nível aceitável, os ruídos excessivos
aos quais o usuário está exposto. Os tampões,
em geral, são menos eficazes que as conchas. A eficiência
de ambos pode ser comprometida se forem colocados de maneira
incorreta.
Para comparar a redução do
ruído com tipos diferentes de protetores, os ensaios
de atenuação de ruído devem ser feitos
de acordo com as normas nacionais ou internacionais. Os fabricantes
devem relatar as técnicas de ensaio utilizadas e os
laboratórios onde os ensaios foram feitos. Protetores
que não possuam dados confiáveis de redução
dos níveis de ruído medidos num laboratório
credenciado, não devem ser considerados.
As instruções de colocação
dos protetores deverão ser fornecidas pelo fabricante
e seguidas pelo usuário. Tais instruções
deverão ser baseadas nas condições de
ensaio especificadas nas normas usadas. Por exemplo, para
pessoas que usam óculos com armação lateral,
a atenuação obtida durante o uso pode ser menor
do que a especificada pelos ensaios. Neste caso, deve-se buscar
uma colocação que permita a utilização
eficaz de ambos os equipamentos. Além dos níveis
de atenuação dos protetores, devem também
ser relatadas as variâncias dos resultados dos ensaios
(que são devidas às diferenças anatômicas
entre os indivíduos envolvidos durante os testes) e
as diferenças entre as diversas amostras do tipo de
protetor ensaiado. Os limites inferiores de atenuação
podem ser determinados, subtraindo um ou dois desvios padrão
da atenuação média do protetor considerado,
neste caso, a confiabilidade atingida será respectivamente
84% e 98%, considerando a variação estatística
Gaussiana. A figura 5.1 mostra as atenuações
e os desvios padrão de um protetor típico. Estas
informações são obtidas de ensaios normalizados
e fornecidos por fabricantes (ver item 5.2). |
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Figura 5.1: Valores
típicos de atenuação média
-1 e -2 desvios padrão |
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5.2. Ensaios de Atenuação do Ruído
A primeira norma sobre procedimentos de ensaio
de atenuação de ruído em laboratórios
é da ANSI Z 24.22/1957. Esta norma foi revisada com
posterior publicação da ANSI S3.19/1974 (e ASA
STD 1/1975) que por sua vez foi revisada novamente com publicação
da ANSI S 12.6-1984 (similar as normas ASA 55-1984 e ISO 4869-1990)
e recentemente da ANSI S12.6 - 1997.
A norma ANSI Z 24.22 especifica uma câmara
anecóica com campo acústico direcional. O campo
acústico gerado é de tons puros com alto-falantes
posicionados diagonalmente à pessoa sentada. A norma
ANSI S 3.19-1974 especifica que a sala de teste teve ter um
tempo de reverberação 0,5 < T <
1,6 segundos e o campo sonoro no seu interior deve ser gerado
por bandas de 1/3 de oitava. Para a ANSI S 12.6-1984 ou 1997(ou
ISO 4869-1), o tempo de reverberação da sala
de teste deve ser T < 1,6 segundos. Todas
as normas descrevem procedimentos de laboratório para
medição da atenuação de ruído
fornecido pelo protetor auditivo. Essas não são
normas de qualificação ou aceitação
do protetor. A medição de atenuação
é baseada na determinação do limiar de
audição de um indivíduo sem protetor
e com protetor. A diferença entre as duas medidas fornece
a perda por inserção (atenuação)
do protetor. No caso do método objetivo da norma ANSI
S 3.19-1974 (ou ISO 4869-3), usando cabeça artificial,
a atenuação é dada pela diferença
entre os níveis com e sem protetor. As normas de ensaios
objetivos com cabeça artificial; ANSI 3.19-1974 e ISO
4869-3 são normas simplificadas e geralmente usadas
para controle de qualidade e desenvolvimento de produto. Todas
as normas são válidas para ensaiar protetores
lineares, isto é, a atenuação do protetor
não depende dos níveis usados durante o ensaio.
Protetores com filtro (passa-banda), válvula, orifício,
amplificação eletrônica ou com cancelamento
ativo, são não-lineares.
A tabela 5.1 mostra a comparação
entre as quatro normas para o método subjetivo. A norma
ANSI S3.19-74, em seu contexto, possui a descrição
de um método objetivo usando uma cabeça artificial,
eliminando a necessidade do uso de pessoas para a realização
dos ensaios e fornecendo melhor repetibilidade dos resultados.
Os resultados são comparativos e são usados
também para o desenvolvimento do protetor e de controle
de qualidade. No método subjetivo, as atenuações
medidas ficam mais perto dos valores reais do que no método
objetivo, pois levam em consideração o caminho
de transmissão via óssea. Por outro lado, é
um método demorado, caro e precisa de câmara
especial com T < 1,6 seg. As normas ISO 4869-3
usa o método objetivo e são similares à
norma ANSI S3.19 (método objetivo). A figura 5.2 mostra
as dimensões padrão da cabeça artificial
especificada na ANSI 3.19-1974. O material da cabeça
deve fornecer um isolamento acústico adequado. A cabeça
existente na UFSC é feita de ferro fundido pesando
17,6 kg. A colocação do microfone e pré-amplificador
deve ser feita sob pressão para diminuir o vazamento
sonoro. O furo do microfone de pressão (de ½''
ou 1'') deve ser perpendicular à face de teste e sua
membrana deve estar no mesmo plano da cabeça. Um material
macio simulando a pele humana deve ser usado, por exemplo
Sorbothane.
A tabela 5.2 mostra a diferença básica
entre as normas ANSI e ISO para o método objetivo,
mostrando os principais requisitos para qualificação
da cabeça e campo sonoro dentro da câmara reverberante.
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Tabela 5.1: Comparação
entre as normas ANSI |
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Figura 5.2: Cabeça artificial
(norma ANSI S3.19) |
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Tabela 5.2: ANSI S3.19
e ISO 4869-3 para o método objetivo
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Desde o desenvolvimento da ANSI Z24.22-1957, métodos de
atenuação de ouvido real no limiar de audição
(REAT) para a medição da atenuação
de ruído de dispositivos de protetores auditivos, tem
sido amplamente utilizados e descritos na literatura. Em anos
subseqüentes, foram desenvolvidos e testados muitos procedimentos
adicionais, e em alguns casos padronizados, mas o procedimento
de atenuação de ouvido real permaneceu como
o mais comum e aceito [Berger, 1986]. Geralmente reconhece-se
os dados do REAT como os que apresentam a mais precisa medida
de redução de ruído fornecido por dispositivos
convencionais com níveis independentes (protetores
lineares), para uma condição de teste específico,
isto é, para os indivíduos que foram testados
e da forma como os dispositivos sob teste foram colocados.
Existe na comunidade profissional e dentro
da literatura científica uma grande controvérsia,
isto é, a aplicabilidade dos dados de REAT medidos
em laboratório para ambientes do mundo real. Em outras
palavras, os dados são válidos para aplicação
fora do laboratório. Eles fornecem um indicador útil
da atenuação desejada por grupos das pessoas
que usam os protetores de audição diariamente
para proteção a exposições de
ruído profissionais ou recreativas?
Começando em meados dos anos 70 e
continuando até os 90, estudos mostram que a atenuação
medida em campo de protetores auditivos é substancialmente
menor que aquela que seria obtida em testes feitos em conformidade
com as normas de ANSI anteriores, S3.19-1974 e S12.6-1984.
Esta divergência é especialmente problemática
considerando a importância que muitos compradores de
protetor de audição e usuários dão
importância aos dados de atenuação publicados.
Idealmente, a aproximação
dos dados de laboratório versus o mundo real iria melhorar
o desempenho no campo colocando-o mais próximo aos
dados de laboratório, mantendo em mente que, sob nenhuma
hipótese, pode-se conseguir os dados ótimos
de laboratório em condições de campo.
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Indiferentemente, a maioria concorda que a prática industrial
de conservação de audição deve
ser aumentada de forma que a performance do protetor auditivo
no mundo real seja percebida. Porém, também
está claro que um método de laboratório
para medir a atenuação do protetor auditivo
que produz dados que se correlatam mais aproximadamente com
os dados existentes, ou igual do campo, seria uma valiosa
ferramenta de predição.
O Grupo de Trabalho da ANSI responsável
por esta norma investiu em um projeto para desenvolver um
procedimento para obter estimativas de desempenho de campo
mais válido. Assim, vários procedimentos de
normas foram avaliados e testados por um estudo piloto e também
por um estudo completo de comparação interlaboratorial.
Os resultados, que foram resumidos e apresentados em três
partes, forneceram uma justificativa científica para
o procedimento de colocação pelo ouvinte, o
qual foi incorporado nesta norma [Berger e Franks, 1996; Royster
et al., 1996; Franks et al., 1996].
A colocação de protetores
auditivos supervisionada pelo experimentador (isto é,
colocação dos dispositivos de forma muito cuidadosa),
que era a única opção na versão
anterior da ANSI S3.19-1974 e S12.6 - 1984, pretende descrever
os limites superiores do desempenho do protetor auditivo.
Este procedimento pode ser útil para desenvolver uma
melhor compreensão teórica de como os protetores
auditivos bloqueiam o som e se adaptam à cabeça
ou ao canal do ouvido. Porém, tais dados fornecem uma
percepção inadequada no desempenho de protetores
auditivos quando considerações do mundo real
a cerca dos fatores humanos devem ser levados em conta. Uma
vez que a interface entre o protetor auditivo e a cabeça
ou canal do ouvido é um determinante crítico
da atenuação a ser alcançada, e como
é fortemente controlada pelo dispositivo e como ele
é usado (especialmente para protetores de inserção),
considerações dos fatores humanos devem ser
incluídos no modelo de laboratório caso estimativas
válidas de campo estão para ser obtidas. |
Em reconhecimento a importância da interface cabeça/protetor
auditivo/canal do ouvido, normas laboratoriais para métodos
de medição de atenuação em protetores
auditivos envolvem o uso dos dispositivos sob teste por indivíduos
humanos. O valor de usar indivíduos humanos, em contrapartida
a artefatos de teste em instalações acústicas,
não deve ser negligenciado no desenvolvimento de procedimentos
para teste. A manutenção do fator humano na
equação, produz o potencial para desenvolver
um procedimento baseado em laboratório que modela mais
de perto as condições de campo.
No que diz respeito a importância do
uso de indivíduos humanos, deve-se considerar que o
experimentador interagindo com os ouvintes pode levar a uma
variação nos resultados medidos. O experimentador
pode influenciar drasticamente os dados pela maneira como
seleciona, trata, supervisiona, motiva e ajusta os protetores
nos ouvintes, em particular pelas próprias percepções
do experimentador sobre como o protetor auditivo seria usado
e como seria esperado funcionar. A utilidade dos dados de
laboratório na predição da performance
de campo em uma dada aplicação será determinada
em grande parte pelo grau de correspondência entre os
procedimentos de laboratório para ajuste de protetores
auditivos e aqueles encontrados no mundo real.
A seleção do método
de ensaio da norma ANSI S12.6-1997, seja, método A
ou método B, é baseada na aplicação
desejada.
O procedimento descrito pelo método
A, corresponde aproximadamente aos procedimentos usados nas
normas, ANSI S12.6-1984, ANSI S3.19-1974 e ISO 4869-1. Tais
resultados são úteis para projetar protetores
auditivos, para fornecer um conhecimento teórico das
limitações de desempenho e nos testes rotineiros
de garantia de qualidade.
O procedimento descrito pelo método
B tem por objetivo fornecer uma aproximação
dos limites máximos de atenuação no mundo
real que podem ser esperados para grupos de usuários
expostos a ruído ocupacional (ver figura 5.3). |
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Figura 5.3: Comparação
da atenuação e do desvio padrão medidos
por ANSI 3.19/1974, ANSI 12.6/1997 (B) e no mundo real
para Concha (curva abaixo) e plug de inserção
(curva acima), [E.H. Berger & L.H. Royster, 1996]
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Indivíduos devidamente treinados e motivados podem potencialmente
obter maior atenuação do que a obtida com o
método B, chegando mais próximo aos valores
obtidos com o método A, especialmente para protetores
auditivos tipo concha.
No entanto, valores de atenuação
obtidos pelo método B, se aproximam mais ao desempenho
dos protetores auditivos em situações reais
de uso. [Gerges, 1999]
Os métodos desta norma se aplicam
aos protetores auditivos passivos convencionais, bem como,
aos dispositivos eletrônicos quando estes estão
desligados. Outros dispositivos como conjuntos para comunicação
tipo "headset", capacetes, roupas pressurizadas
e outros sistemas com características de atenuação
sonora podem incorporar também a função
de proteção auditiva. Os dispositivos também
podem ser combinados entre si, por exemplo, protetores de
inserção usados em conjunto com protetores tipo
concha ou com capacetes.
A Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT, através da CENA Acústica,
aprovou em 1987 a formação de um grupo de trabalho
(GT06/03), sob a coordenação do autor deste
livro, para elaboração de texto da norma nacional
de ensaio de atenuação. O grupo foi formado
por especialistas da UFSC, do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO),
do Instituto de Pesquisa e Tecnologia de São Paulo
(IPT), da FUNDACENTRO e do Instituto de Elétrica e
Eletrônica da USP; além da participação
dos fabricantes de protetores, da Associação
Nacional da Indústria de Material de Segurança
e Proteção no Trabalho (ANIMASEG) e de alguns
usuários de grandes entidades e empresas estatais e
federais. O grupo elaborou dois textos: um baseado no método
objetivo da ANSI S3.19/74 e ISO/DIS 6290 para ensaios de protetores
tipo concha, usando cabeça artificial, e outro baseado
na ANSI S 12.6/84. Ensaios efetuados em dez protetores tipo
concha, na UFSC, no IPT e na FUNDACENTRO, mostraram variação
nos valores medidos causados, provavelmente, por diferenças
entre as salas de teste usadas. Deve-se observar que a cabeça
artificial e os protetores usados foram os mesmos. Contudo,
tais variações mostraram a mesma ordem de grandeza
das obtidas em ensaios em vários laboratórios
nos EUA.
Em 1997 este grupo foi reestruturado sob
um novo grupo da ABNT e da ANIMASEG (CE 32:001.01) e está
trabalhando considerando as novas normas especialmente da
ANSI S12.6 - 1997.
5.3. Laboratório de Ruído
Industrial da UFSC (LARI)
O LARI é composto de instalação
física, equipamentos de medições e análise
de ruído e vibrações e recursos humanos
qualificados. A câmara acústica do LARI é
qualificada conforme as normais internacionais de ISO e ANSI
(ver figura 5.4). A qualificação da câmara
é feita conforme os requisitos das normas nos seguintes
parâmetros:
- 1. Ruído de fundo
- 2. Campo sonoro difuso
- 3. Tempo de reverberação
- 4. Diretividade do campo sonora
A comparação de resultados
dos ensaios de vários protetores auditivos obtidos
em quatro laboratórios; um no Brasil, o LARI e três
nos EUA; Laboratório de Aearo, Laboratório M&K
e Laboratório da Força Aérea Americana,
mostra valores coerentes com variação do NRRsf
entre ±2 dB.
O LARI é credenciado pelo MTE e está
em processo de credenciamento com o INMETRO. No LARI são
realizados os ensaios de atenuação de ruído
dos protetores auditivos além de outros trabalhos de
pesquisa e desenvolvimento tais como:
1. Desenvolvimento de procedimento para medição
de atenuação de ruído impulsivo dos protetores
auditivos;
2. Desenvolvimento de fontes de ruído
impulsivo com boa repetição;
3. Ensaios objetivos de pluges de inserção;
4. Modelos numéricos de predição
de atenuação de ruído dos PA;
5. Desenvolvimento e modificação
do projeto de protetor auditivo para fabricantes;
6. Estudo do efeito da vida útil do
protetor auditivos na sua atenuação de ruído;
7. Desenvolvimento de ensaios objetivos;
8. Desenvolvimento de aparelhos para ensaios
mecânicos.
O LARI tem cooperação técnica
com outros laboratórios dos EUA e é considerado
um centro de excelência em protetores auditivos em nível
internacional. |
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Figura 5.4: Câmara
Acústica do LARI |
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